quinta-feira, 26 de julho de 2007

diamonds and rust

-...
-Alô?
-Diga.
-Meu, como está você?
- “Eu preciso saber da sua vida...”
-Não brinca, responde.
-Como você acha que estou?
-Não arrisco palpites desde 1986.
-Ok, Ok!
Estou mal, eu sei que não era o que gostaria de ouvir, mas é isso.
-Tudo bem, ao menos foi sincera.
Mas por que não está bem?
-Porque estou mal.
-Escuta, eu estou preocupada com você, se você não liga
Não vou perder meu tempo com suas lamúrias, ok?
-Desculpe-me.
-Você parece tão frágil pedindo desculpas.
-Eu sou tão frágil, minha cara...
-Percebo, parece que vai quebrar.
-É, uma hora eu quebro.

Silêncio.

-Vem pra cá, meu.
Faço-te um chá.
-Não gosto de chás.
-Digo, um café.
-Tudo bem, mas me prometa que não virá com papinhos de gente otimista.
-Eu nunca fui otimista, só procuro pequenas coisas na vida que possam me fazer um pouco bem.
-Isso é otimismo.
-Não é.
Otimismo é quando só se vê o lado bom da vida.
Eu sou uma grande balança, as coisas boas só existem pra amparar-te das coisas ruins.
-É verdade.

Tosse.

-Escuta, você faz café com açúcar?
-Sim, adoçantes são pra losers.
-É que eu odeio café com qualquer tipo de doce, gosto de café amargo.
-Você é tão amarga, que já não gosta da doçura nem de um pobre café.
-Não tenho culpa, a vida me fez isso.
-Sabe que não.
-Hm, talvez.

Silêncio.

-O Brasil foi campeão no futebol feminino hoje.
-E você chorou ao cantar o hino nacional?
-Claro que não, meu patriotismo está fora da validade.
-Eu nunca fui patriota, mas não pago pau pra nenhum outro país.
-Você dizia que a Inglaterra era o melhor do país do mundo.
- E ainda acho isso, mas entenda:
Admirar um país é uma coisa...
Pagar pau pro mesmo, é outra, absurdamente diferente.
-Ok, Ok, senhora-que-não-paga-pau.
-Sim, não gosto de paus.
-Nem eu.

Barulho de isqueiro.

-Voltou a fumar?
-É meu hábito pré-histórico.
-Hoje tu o acendes, amanhã ele te apaga.
-Frase-efeituosa de botequim, caríssima?
-Sim, freqüento bastante.
-Eu também.
-Por que nunca a encontro?
-Lugar errado, na hora certa.
Ou hora errada, no lugar certo.
Ou nenhum dos dois.
-Espero um dia te encontrar num desses bares da vida.
-Em Manchester.
-Sim, aqueles encontros típicos de novela:
Nós duas, na Inglaterra, fazendo sabe-se-lá-o-que
Mas se encontrando num pub desses.
-Te dou um abraço, com ar de “corta!”.
-Um abraço falso?
-Um abraço de plástico.
-Your fake plastic feeling?
-Exatcly, babe.
-Eu juro que não sei como ainda falo com um ser tão filho-da-puta como você.
-Eu sei.
-É, eu também.
-...
O café tá pronto.

joan baez - diamonds and rust

Um comentário:

Rayla disse...

"-Sim, não gosto de paus.
-Nem eu."
ashiuahsiuahias

eu achei esse texto tão foda que já perdi as contas de qnts vezes li o.O