domingo, 28 de outubro de 2007

Existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem.

- alcançar o penúltimo estágio do vazio é um mau sinal, não é?
-as pessoas costumam falar “alô” ao ligarem pras outras
-alô, alcançar o penúltimo estágio do vazio é um mau sinal?
-alô, como é que vou saber?
-não sei, mas só pensei em ligar pra você.
-qual é o penúltimo estágio do vazio?
-desistir.
-e o último?-pôr um ponto final nas coisas.
-“um ponto final nas coisas” é suicídio?
-é.
-alguém já te disse que você é muito dramática?
-alguém já te disse que você é um pé no saco?
-você já me disse.
-você também diz sempre que sou dramática...
-sabe o que eu acho?
-hum
- não fala “hum”, é mal educado.
-hum, desculpa.
- te acho muito pouco confiante.
-diz algo que eu não saiba.
-vou dizer:
você é do tipo que desiste na primeira grande dor.
e você sabe muito bem que isso passa, mas faz questão de esquecer disso.
-não é assim.
-é assim sim.
e te digo mais: você caga de medo de coisas novas!
-como assim “coisas novas”?
-coisas, sabe
- tipo fatos?
-tipo dores e crises e lágrimas e motivos novos pra elas escorrerem, sacou?
-saquei, e vou te dizer algo muito lindo: você tem razão.
eu tenho medo de coisas novas, de sentimentos e sensações e desesperos e inquietações novas.
-sabia, já posso me formar em psicologia.
-vai ficar milionária.
-aí te compro prozac
mas falando sério, me preocupo com você.
-jura?
-não, é mentira.
não me preocupo, porque você é forte, só meio covarde.
-mas a minha covardia deveria causar preocupação
-ah, é?
-é sim
-você não vai fazer nada, tá me entendendo?
se você fizer, vai ter que se virar pra conseguir algum tipo de evolução espiritual pra conseguir voltar pra terra, tipo ghost.
-pra eu voltar, eu teria que ter algo inacabado aqui, lembra?
-pois você tem.
-é? o quê?
-você não veio tomar café comigo, você só me enrola.
-eu vou voltar pra terra só pra tomar café com você?
-como que “só pra tomar café comigo”?
você tá desdenhando da minha companhia, é isso?
- e eu sou a dramática?
-não, você desdenhou da minha companhia, estou muito triste.
-quer que eu te compre prozac?
-não, quero zerocal, tô gorda.
-engraçadinha, tô com medo
-de?
-de fazer besteira
-você só faz se quiser... você quer?
-eu quero.
-então ninguém vai te impedir
-é.
-...como assim você quer?
-eu não quero, sabe?
mas eu já desisti de tentar ser feliz.
-você tá passando uma fase importante da sua vida tentando ser feliz, quando deveria parar de tentar fazer isso.
-mas aí como eu fico?
-não vai ser feliz, mas não vai ficar triste por isso, porque não vai mais tentar
-oi?
-se você não tenta pra se frustrar, não vai se frustrar.
-eu vou me frustrar por não tentar.
-você é doente
-eu sei
-você é do tipo que procura problemas, explicações...
-sou do tipo que procura e nunca acha
-claro, não há o que procurar e nem entender.
-não?
-não, tudo simplesmente é.
-queria ser normal.
- tenho uma má notícia: é ruim ser normal.
e você deveria ser feliz em saber que é intensa.
-eu sou?
-é sim.
-e você?

-sou conformada.
-que triste
-é, é triste
olha cara, são 2:40 da madrugada, seria maleducado falar que tenho que desligar?
-seria muito.
-então, o conformismo é algo triste.
-fato.
olha, vou ter que desligar...
-hahaha.
-te deixo um beijo e um obrigada que você nunca mais vai ouvir.
-te deixo um de nada e um obrigada por ter lembrado de mim que você nunca mais vai ouvir.
-eu sempre lembro de você.
-por quê?
- porque você é a única coisa nova que não me assusta.

Cat power – Nude as the news

terça-feira, 23 de outubro de 2007

i jumped in the river and what did i see?

"quantas vezes você já se questionou se há algum caminho?
se há caminhos?
o da direita e o da esquerda...
já chegou a decidir qual trilhar?"

disse a psicóloga do canal de tv.

ela encarou como se fosse nada
e realmente era nada.
pra quê prestar atenção nas coisas que psicólogos dizem?
são todos uns picaretas, que ganham dinheiro pra ouvir coisas
e dizer coisas que já foram ditas
frases de efeito ridículas.
se você é jovem, dizem que é fase.
se você é velho, ainda há tempo.
e pra quem tá em estado terminal?

-pff.

levantou-se, caminhou até a cozinha
deitou o cigarro sobre o cinzeiro e esticou-se pra alcançar as latas de mantimentos
-chá ou café?
pegou o pó.
pôs a água pra ferver enquanto foi procurar algo pra ouvir
afinal, eram 2 da madrugada e ela estava sem sono.
e sem o mínimo de preocupação com o chefe que no dia seguinte provavelmente não se importaria com sua insônia.

- é esse - falou sozinha.
ignorou o início do disco e tudo finalmente começa com barulho de um relógio.

estava tudo perfeito:
chuva, folga, cigarros, café, a noite, um gato.

foi até a cozinha, jogou o pó dentro d'água que já fervia, um pouco-muito de açúcar e tomou aquela água preta com rastros de pó nos lábios, nos cantos da boca, nos dentes e na língua
mas quem se importa?

o cigarro já era.
acendeu outro e antes que pudesse dar o primeiro trago tossiu de forma desesperadora
mas isso não impediu de que ela se matasse um pouco mais com um desses cânceres caros.

sentou em sua poltrona de couro azul, um pouco destruída
sabe como é... gatos.
apoiou os pés sobre uma mesa que só servia pra pôr os pés e pra servir de depósito pra inúmeiras meias páginas rabiscadas.

fumava e tomava seu café, nada mais importava nos próximos 4 minutos... já havia passado 3.

olhando a chuva cair tão sem pressa...
pensou ela:
- qual caminho será que eu trilho?


pink floyd - time

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

a minha correnteza não tem direção

'perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas.

tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de werther e farrapos de versos de jim morrison, abaporu heavy-metal-,
só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.'

é assim que as coisas estão dentro-fora de mim :)

fase: sem o mínimo de senso criativo.
mas um dia corro pra cá quando a criatividade bater.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

coisa velha.

“A tua mente, ávida e sedenta por saídas, labirinta seus caminhos e embola tuas escolhas Não tem método, o que fica é resto do que um dia foi. Espera um dia encontrar no que hoje é ruína O que nunca foi achado por ti nem quando era inteiro; Tem em si angústias adormecidas, algumas mortas Aguardando o momento chave pra ressurgir No teu minuto, meu segundo Te perco por aí Te perdes por aí E se algum dia se encontrar, responda: Atualmente A tua mente Atua ou mente?” old, old...