domingo, 16 de dezembro de 2007

como seria melhor se não houvesse refrão nenhum...

Quando foi que me perdi?
Quando perdi o controle de minha vida?
Dos meus atos?
E por que eu perdi isso?
Ora me orgulho por ser quem eu sou
Ora sinto falta do meu eu do passado.
Eu não reclamava tanto
Eu não pensava tanto
Eu não amava tanto
Eu não mentia tanto
Eu não bebia tanto
Na verdade, eu nem bebia.
Eu dava mais valor às coisas
Eu não questionava tanto
Eu não tinha tanto medo
Eu só queria minha mãe.

Eu não fazia idéia da dimensão do mundo
E do quão difícil a vida pode ser.
Eu confiava nas pessoas
E até gostava fácil e de muitas
Todo mundo era especial
E bem, isso não mudou.

Mas eu só queria saber quando é que foi que a linha reta se desviou
Que eu bati no muro
Quando foi que eu comecei a cavar o meu abismo
Quando eu me perdi em mim
Quando comecei a afundar

Como comecei a querer entender o que eu nunca pensei que pudesse questionar
Quando eu fiquei tão ranzinza.
Quando eu fiquei tão idiota.
Quando eu fiquei tão fútil.
Quando eu fiquei tão superficial.
Quando eu fiquei tão gorda.
Quando eu fiquei tão triste.
Quando eu fiquei tão preguiçosa...
Eu procurei?
Não?

Bem, só sei que toda essa mudança está me assustando.
Eu já não durmo tão bem
Tenho insônias irritantes
E sonos pesados irritantes do mesmo tanto
Eu me afastei de pessoas importantes
E, infelizmente, não posso mais reaver isso.
Conheci pessoas fascinantes
E vejam só: estraguei tudo também.
Mas sabe lá Deus por que nem tudo está perdido.

Minha vida tá uma bosta
Eu tô uma bosta
Antes era melhor, mas o passado não volta.
As únicas coisas que voltam são as lembranças
E o arrependimento por não ter feito coisas, não ter falado coisas.
Ou de ter feito e falado certas coisas...

Não sei o desfecho disso, mas uma coisa é certa:
A felicidade vicia.
É caminho sem volta.

Até o primeiro dia de 2008, blog.

Au revoir.


[queria citar caio, mas é tão díficil dizer algo dele, são tantas coisas!]

mas vai ser isso:
"Que seja doce."

Radiohead - Bones

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

o ministério da saúde adverte

fumar causa impotência sexual, câncer de boca, câncer de pulmão, necrose, aborto espontâneo, perda dos dentes, faz mal pra criancinhas...
E por que é que eu não paro?
motivo os fumantes têm de sobra, só falta vontade.
pode parecer (e parece) um pouco idiota falar algo do tipo, mas... eu gosto de fumar!
eu sei que faz mal, eu sei que vai me matar e, do jeito que as coisas andam, acho que não vai demorar muito pra acontecer, mas eu gosto.

Meu professor de Ciências na última aula, pôs ao lado da nota de minha prova:
"muito bom, só precisa parar de fumar."

Venho pensando muito nisso, e bem, espero um dia parar, antes que ele me pare.

Música do dia (e do ano!):

Jigsaws falling into place
There is nothing to explain
Regard each other as you pass
She looks back, you look back
Not just once
Not just twice
Wish away the nightmare
Wish away the nightmare
You've got a light you can feel it on your back
You've got a light you can feel it on your back
Jigsaws falling into place


Radiohead, os donos da minha música. :)

sábado, 8 de dezembro de 2007

- dicas de playstation!

Tava andando pelo centro de minha tediosa e fétida cidade, quando me deparo com um menino falando pro outro:
- caaara, fiz um blog!
- pô, passa o endereço
- [algo que eu infelizmente não consegui entender]
- ae, vou linkar o seu no meu
- beleza
- mas você vai postar o quê?
- dicas de playstation!
- maaaassa, brother!

Fiquei tão horrorizada com o papo, que decidi fazer deste meu espaço-preto, o que diz na cartilha:
um diário.
Chega de textinhos medíocres, de gente medíocre... Vou escrever sobre cada coisa do meu dia, of course, se valer a pena.
Mas como nunca tive um diário (me chamam de sem infância, agora, sem adolescência também?), vou escrever o que me der na telha.
Coisas do tipo: "Eu odeio minha mãe".

O porquê desta seríssima decisão eu não sei, mas acho que quero deixar registrado meus dias, porque o futuro já começou (hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa e é de quem quiser....).

Música-trilha de hoje:

Ana Carolina - Implicante

Hoje eu levantei com sono
Com vontade de brigar, eu tô manêro pra bater, pra revidar provocação
Olhei no espelho, meu cabelo e tudo fora do lugar
Vê se não me enche, não me encosta
Tô bravo que nem leão
E não pise no meu calo que eu te entorno feito água e te jogo pelo ralo...
Hoje você deu azar
Hoje você deu azar.

De que vale o seu cabelo liso e as idéias enroladas dentro da sua cabeça?
De que vale seu cabelo liso e as idéias enroladas dentro da sua cabeça?

-x-

É isso, hoje eu tô meio implicante.


Cartola - o mundo é um moinho

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

o circo

Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver um circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro e qualidade

Corre, corre, minha gente, que é preciso ser esperto
Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto
Mas no meio da folia, noite alta, céu aberto
Sopra o vento, que protesta
Cai no teto, rompe a lona
Pra que a lua, de carona, também possa ver a festa

Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver um circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro e qualidade

Bem me lembro, trapezista, que mortal era seu salto
Balançando lá no alto, parecia de brinquedo
Mas fazia tanto medo que Zezinho do trombone,
De renome consagrado, esquecia o próprio nome
E abraçava o microfone pra tocar o seu dobrado

Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver um circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro e qualidade

Faço versos pra o palhaço que na vida já foi tudo
Foi soldado, seresteiro, carpinteiro, vagabundo
Sem juíz e sem juizo, fez feliz a todo mundo
Mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria
Todo o encanto do sorriso que seu povo não sorria

Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver um circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro e qualidade

De chicote e cara feia, domador fica mais forte
Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte
Terminado seu batente, de repente a fera some
Domador, que era valente, ante as feras se consome
Seu amor indiferente, sua vida e sua fome

Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver um circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro e qualidade

Fala o fole da sanfona, fala a flauta pequenina
Que o melhor vai vir agora que desponta a bailarina
Que o seu corpo é de senhora, seu rosto é de menina
Quem chorava já não chora, quem cantava, desafina
Porque a dança só termina quando a noite for embora

Vai, vai, vai terminar a brincadeira
Que a charanga tocou a noite inteira
Morre o circo e nasce na lembrança
Foi-se embora eu ainda era criança.



Lembra minha infância, sabe?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

carta

Belo Horizonte, 22 de Agosto de 1988.

Não me ache estupidamente pretensioso por ainda te escrever.
Se o destino desta carta é igual ao de todas, peço-te pela primeira vez em todos esses anos, que pelo menos a leia, pois é a última vez que lhe escrevo.
Eu disse última?

(pausa)

Venho pensando em você, e não sei por que digo, pois há anos meus dias são cheios de ti.
Tu vives boiando em minha cabeça, assim como boiava em meus braços, como boiava em nossa cama...
Vejo-me num daqueles botes laranja em uma daquelas tempestades terríveis no pacífico.
A tempestade se chama Luiza.
E nesta tempestade a trilha é Jobim.

E isso me fez lembrar de coisas dolorosas, como que quando tu me dizias que uísque me deixava com mau hálito, e que tinha de fazer a barba, e todas aquelas coisas que tu me dizias todos os dias, que eram irritantemente lindas.
Eu sinto falta das tuas broncas e de como nós brigávamos por cigarro.
Eu sempre levava Galaxy, quando na verdade tu querias Marlboro.

E a saudade juntamente com o silêncio, paira.

Me sinto um completo analfabeto.
As palavras simplesmente fogem de mim, me sinto um aprendiz.
Não consigo escrever palavras que não saudosas pra ti.
Eu sei o quanto isso te irrita, pois eu ainda sei que tu não te simpatizas com a saudade.
Tu não permitias que eu te ligasse de madrugada, assim como aqueles casais em que nós nos espelhávamos quando decidíamos que não valia a pena formar um casal.
E isso sempre me satisfez.
Você fazia uma falta boa de sentir
Uma falta que seria suprida no dia seguinte
Com teus beijos secos e alcoolizados e esfumaçados e tristes e que explodia quando se encostavaaos meus.
Teus beijos foram os melhores.
Muitas mulheres passaram por minha vida depois de ti, mas nenhuma conseguia acariciar minha barba por fazer como tu fazias, nenhuma dormiu em meu peito como tu fizeste.
Lembro dos teus movimentos, dos teus suaves movimentos de moça-mulher.
Da sua sensualidade tímida até...
Lembro-me de tudo.

E tu flutuas...

Lembra dos textos de Garcia Márquez?
Das músicas-supresa de madrugada que tu fazias questão de pôr sempre?
Mas não um ‘sempre’ que fosse previsível...
Dos gritos enfurecidos por eu cismar de não fazer o que tu dizias.
Das palavras-faca que trocávamos ao sofá
Das tuas viagens intermináveis, mesmo que durasse um dia.
Dos teus telefonemas com um tom subjetivo, nunca assumindo pra que diabos ligou.
Da sua raiva por eu não saber fazer o seu maldito capuccino.
Lembra quando te dizia o que teu desejo era o meu desejo?


(pausa)

A carta está chegando ao fim.
A música está chegando ao fim.
A minha vida está chegando ao fim, e a sua também.

Minha barba cresce a cada dia mais rápido.
Já está branca.
Meu hálito ruim não terá jamais fim, pois ainda bebo uísque.
E o teu Marlboro está aqui.
E o meu Galaxy do lado.

E minha vida segue como um brilhante que partindo a luz explode em sete cores, revelando então os sete mil amores que eu guardei somente pra ainda te dar, Luiza.

Um beijo e outro.
Do ainda... Teu.

P.S: você pode ser a calmaria também.


chico buarque - tatuagem

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Hoje

Hoje foi um daqueles dias em que a gente não sabe direito o que pensar
Ou o que fazer, ou o que falar...
Todo mundo tem um dia desses, ou vários dias desses.
Hoje foi o dia em que eu senti inveja da felicidade alheia.
Do tênis alheio
Das cores alheias
Dos sorrisos alheios
Das vontades alheias
Dos recheios alheios
Todas aquelas coisas que um dia você teve inveja.
Mas não foi aquela inveja de querer que a pessoa não tenha o que tem
E sim de querer ter também.
Porque ninguém diz, mas inveja e egoísmo andam juntos.
Hoje eu me senti off the hook.
Hoje eu sentei no meio de uma daquelas lojas de cd’s e li um livro que estava aberto, na seção de livros.
Li meia dúzia de trinta páginas, teria lido tudo, mas houve impedimentos.
Sempre há, em tudo.
E no livro dizia algo muito interessante.
Dizia que o maior defeito do ser humano é querer saber quando e como as coisas vão acontecer, mas nunca estão preparados.
É como um terremoto: querem tanto saber quando e como vai acontecer que às vezes esquecem de se preparar.
E isso me fez pensar que isso é verdade.
Eu não sou do tipo que aceita tudo o que me dizem, tudo que leio, tudo que ouço...
Sempre encaro as coisas como sugestões.
Mas existem exceções.
Tem aquelas coisas que simplesmente entram em você e se tornam parte.
Pode ser uma frase, uma música, qualquer coisa.

Hoje eu também percebi que sorrio de mais.
E isso não me agrada, porque eu não sabia que sorria tanto assim...
No intervalo de uma das provas fui até uma padaria comprar café,
Eu pedi o café sorrindo, respondi tímida e sorrindo, ao momento em que a atendente disse: pra agora ou pra depois?
Peguei o café sorrindo, adocei sorrindo, e agradeci sorrindo.
Sem saber que estava sorrindo...

Hoje eu percebi o quanto eu gosto de chico, de mutantes, de secos & molhados...
Hoje meu coração disparou umas duas vezes, por coisas distintas.
Hoje eu saí do sério, xinguei e falei mal todo mundo, até de quem não devia.
Hoje percebi o quanto odeio operadores de telemarketing, aquelas gentes que te fazem esperar uma hora na linha pra dizer que vai transferir pro setor responsável...
Percebi que procuro humor nas coisas ruins.
Descobri que há dois anos não é meu pé que é maior que o outro, é o tênis mesmo.
Percebi que cometo o talvez erro de amar as pessoas mais do que a mim.
Hoje eu até decidi que vou mudar!
Só não sei quando...
Hoje eu tive vontade de assistir muitos filmes, beber litros desse líquido maravilhoso, o cinema.
Hoje eu também tive vontade de ouvir música popular brasileira o dia inteiro.
Hoje eu quis ligar pra muitas pessoas, mas não liguei.
Hoje eu quis tantas coisas, que eu não fiz um terço delas.

E cheguei à brilhante conclusão:

Acho melhor ficar sem querer as coisas, querer coisas implica em querer muitas coisas, e eu não sei lidar com isso.


Chico – olho nos olhos – aquela do ‘quando você me deixou, meu bem...'

terça-feira, 6 de novembro de 2007

chegando em saturno

já estou cheia de me sentir vazia.
quando é que vou decidir começar a viver?
quando, não sei...mas que não seja com vinte e nove.

domingo, 28 de outubro de 2007

Existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem.

- alcançar o penúltimo estágio do vazio é um mau sinal, não é?
-as pessoas costumam falar “alô” ao ligarem pras outras
-alô, alcançar o penúltimo estágio do vazio é um mau sinal?
-alô, como é que vou saber?
-não sei, mas só pensei em ligar pra você.
-qual é o penúltimo estágio do vazio?
-desistir.
-e o último?-pôr um ponto final nas coisas.
-“um ponto final nas coisas” é suicídio?
-é.
-alguém já te disse que você é muito dramática?
-alguém já te disse que você é um pé no saco?
-você já me disse.
-você também diz sempre que sou dramática...
-sabe o que eu acho?
-hum
- não fala “hum”, é mal educado.
-hum, desculpa.
- te acho muito pouco confiante.
-diz algo que eu não saiba.
-vou dizer:
você é do tipo que desiste na primeira grande dor.
e você sabe muito bem que isso passa, mas faz questão de esquecer disso.
-não é assim.
-é assim sim.
e te digo mais: você caga de medo de coisas novas!
-como assim “coisas novas”?
-coisas, sabe
- tipo fatos?
-tipo dores e crises e lágrimas e motivos novos pra elas escorrerem, sacou?
-saquei, e vou te dizer algo muito lindo: você tem razão.
eu tenho medo de coisas novas, de sentimentos e sensações e desesperos e inquietações novas.
-sabia, já posso me formar em psicologia.
-vai ficar milionária.
-aí te compro prozac
mas falando sério, me preocupo com você.
-jura?
-não, é mentira.
não me preocupo, porque você é forte, só meio covarde.
-mas a minha covardia deveria causar preocupação
-ah, é?
-é sim
-você não vai fazer nada, tá me entendendo?
se você fizer, vai ter que se virar pra conseguir algum tipo de evolução espiritual pra conseguir voltar pra terra, tipo ghost.
-pra eu voltar, eu teria que ter algo inacabado aqui, lembra?
-pois você tem.
-é? o quê?
-você não veio tomar café comigo, você só me enrola.
-eu vou voltar pra terra só pra tomar café com você?
-como que “só pra tomar café comigo”?
você tá desdenhando da minha companhia, é isso?
- e eu sou a dramática?
-não, você desdenhou da minha companhia, estou muito triste.
-quer que eu te compre prozac?
-não, quero zerocal, tô gorda.
-engraçadinha, tô com medo
-de?
-de fazer besteira
-você só faz se quiser... você quer?
-eu quero.
-então ninguém vai te impedir
-é.
-...como assim você quer?
-eu não quero, sabe?
mas eu já desisti de tentar ser feliz.
-você tá passando uma fase importante da sua vida tentando ser feliz, quando deveria parar de tentar fazer isso.
-mas aí como eu fico?
-não vai ser feliz, mas não vai ficar triste por isso, porque não vai mais tentar
-oi?
-se você não tenta pra se frustrar, não vai se frustrar.
-eu vou me frustrar por não tentar.
-você é doente
-eu sei
-você é do tipo que procura problemas, explicações...
-sou do tipo que procura e nunca acha
-claro, não há o que procurar e nem entender.
-não?
-não, tudo simplesmente é.
-queria ser normal.
- tenho uma má notícia: é ruim ser normal.
e você deveria ser feliz em saber que é intensa.
-eu sou?
-é sim.
-e você?

-sou conformada.
-que triste
-é, é triste
olha cara, são 2:40 da madrugada, seria maleducado falar que tenho que desligar?
-seria muito.
-então, o conformismo é algo triste.
-fato.
olha, vou ter que desligar...
-hahaha.
-te deixo um beijo e um obrigada que você nunca mais vai ouvir.
-te deixo um de nada e um obrigada por ter lembrado de mim que você nunca mais vai ouvir.
-eu sempre lembro de você.
-por quê?
- porque você é a única coisa nova que não me assusta.

Cat power – Nude as the news

terça-feira, 23 de outubro de 2007

i jumped in the river and what did i see?

"quantas vezes você já se questionou se há algum caminho?
se há caminhos?
o da direita e o da esquerda...
já chegou a decidir qual trilhar?"

disse a psicóloga do canal de tv.

ela encarou como se fosse nada
e realmente era nada.
pra quê prestar atenção nas coisas que psicólogos dizem?
são todos uns picaretas, que ganham dinheiro pra ouvir coisas
e dizer coisas que já foram ditas
frases de efeito ridículas.
se você é jovem, dizem que é fase.
se você é velho, ainda há tempo.
e pra quem tá em estado terminal?

-pff.

levantou-se, caminhou até a cozinha
deitou o cigarro sobre o cinzeiro e esticou-se pra alcançar as latas de mantimentos
-chá ou café?
pegou o pó.
pôs a água pra ferver enquanto foi procurar algo pra ouvir
afinal, eram 2 da madrugada e ela estava sem sono.
e sem o mínimo de preocupação com o chefe que no dia seguinte provavelmente não se importaria com sua insônia.

- é esse - falou sozinha.
ignorou o início do disco e tudo finalmente começa com barulho de um relógio.

estava tudo perfeito:
chuva, folga, cigarros, café, a noite, um gato.

foi até a cozinha, jogou o pó dentro d'água que já fervia, um pouco-muito de açúcar e tomou aquela água preta com rastros de pó nos lábios, nos cantos da boca, nos dentes e na língua
mas quem se importa?

o cigarro já era.
acendeu outro e antes que pudesse dar o primeiro trago tossiu de forma desesperadora
mas isso não impediu de que ela se matasse um pouco mais com um desses cânceres caros.

sentou em sua poltrona de couro azul, um pouco destruída
sabe como é... gatos.
apoiou os pés sobre uma mesa que só servia pra pôr os pés e pra servir de depósito pra inúmeiras meias páginas rabiscadas.

fumava e tomava seu café, nada mais importava nos próximos 4 minutos... já havia passado 3.

olhando a chuva cair tão sem pressa...
pensou ela:
- qual caminho será que eu trilho?


pink floyd - time

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

a minha correnteza não tem direção

'perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas.

tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de werther e farrapos de versos de jim morrison, abaporu heavy-metal-,
só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.'

é assim que as coisas estão dentro-fora de mim :)

fase: sem o mínimo de senso criativo.
mas um dia corro pra cá quando a criatividade bater.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

coisa velha.

“A tua mente, ávida e sedenta por saídas, labirinta seus caminhos e embola tuas escolhas Não tem método, o que fica é resto do que um dia foi. Espera um dia encontrar no que hoje é ruína O que nunca foi achado por ti nem quando era inteiro; Tem em si angústias adormecidas, algumas mortas Aguardando o momento chave pra ressurgir No teu minuto, meu segundo Te perco por aí Te perdes por aí E se algum dia se encontrar, responda: Atualmente A tua mente Atua ou mente?” old, old...

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

here we go again

A internet e suas maravilhosas informações.
A última vez que realmente me senti bem em meses, foi dia 01/08.
Há exatos 43 dias.
Desde então o otimismo me deixou
Assim como uma puta, apenas uma noite...

Não tenho muito do que reclamar hoje, saca?
Tô indiferente.
A rua é cinza, as pessoas tom-pastel, as árvores verdes, as flores com suas multi-cores, as roupas não fogem do óbvio, as vozes são as mesmas, a rotina também
E eu não tô nem aí se é quarta ou domingo.

Velvet Underground - Heroin

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

01/08/2007

Pois é, minha gente.

Eis a mais nova esperançosa da parada.
Isso mesmo, acordei com um ar otimista absurdo...
E nem estou assustada com isso, como naturalmente ficaria.
Hoje avaliei junto de mim, eu e eu de novo que, a vida nem tem sido tão ruim assim comigo, é que está padronizado reclamar da vida.
E eu sigo a massa, ou seja:
Ou sou o tipinho feliz o tempo inteiro ou do tipo reclamona.
Me encaix(ava) o no 2º perfil.

Não vou dizer que não me encaixo mais, saca?
Isso pode ser um súbito momento de otimismo, ou só um dia bom, ainda não sei.
Mas o fato é que hoje vi que a vida realmente tem sido boa, que estou rodeada de gente legal, aquelas surpresas inesperadas que a vida apronta, e nem tenho sérios problemas de saúde e nem morri num trágico acidente de avião.
Então, há motivos de sobra pra eu estar ao menos um pouco satisfeita.
(céus, quero me sentir assim todos os dias.)
Quando Caio F. disse que:
“Não há o que esperar.”
Ele estava completamente certo.
Tudo acontece quando você não espera nada
E é isso
Eu cansei de esperar coisas da vida.
Cansei de esperar muito das pessoas.
Cansei do ‘amanhã é um novo dia’.
Cansei das falsas esperanças...

Agora sigo a sábia doutrina do mestre eterno:
Deixo a vida me levar.

Brinks, o Zeca Pagodinho nem é mestre.


Led Zeppelin – Since I’ve Been Loving You

quinta-feira, 26 de julho de 2007

diamonds and rust

-...
-Alô?
-Diga.
-Meu, como está você?
- “Eu preciso saber da sua vida...”
-Não brinca, responde.
-Como você acha que estou?
-Não arrisco palpites desde 1986.
-Ok, Ok!
Estou mal, eu sei que não era o que gostaria de ouvir, mas é isso.
-Tudo bem, ao menos foi sincera.
Mas por que não está bem?
-Porque estou mal.
-Escuta, eu estou preocupada com você, se você não liga
Não vou perder meu tempo com suas lamúrias, ok?
-Desculpe-me.
-Você parece tão frágil pedindo desculpas.
-Eu sou tão frágil, minha cara...
-Percebo, parece que vai quebrar.
-É, uma hora eu quebro.

Silêncio.

-Vem pra cá, meu.
Faço-te um chá.
-Não gosto de chás.
-Digo, um café.
-Tudo bem, mas me prometa que não virá com papinhos de gente otimista.
-Eu nunca fui otimista, só procuro pequenas coisas na vida que possam me fazer um pouco bem.
-Isso é otimismo.
-Não é.
Otimismo é quando só se vê o lado bom da vida.
Eu sou uma grande balança, as coisas boas só existem pra amparar-te das coisas ruins.
-É verdade.

Tosse.

-Escuta, você faz café com açúcar?
-Sim, adoçantes são pra losers.
-É que eu odeio café com qualquer tipo de doce, gosto de café amargo.
-Você é tão amarga, que já não gosta da doçura nem de um pobre café.
-Não tenho culpa, a vida me fez isso.
-Sabe que não.
-Hm, talvez.

Silêncio.

-O Brasil foi campeão no futebol feminino hoje.
-E você chorou ao cantar o hino nacional?
-Claro que não, meu patriotismo está fora da validade.
-Eu nunca fui patriota, mas não pago pau pra nenhum outro país.
-Você dizia que a Inglaterra era o melhor do país do mundo.
- E ainda acho isso, mas entenda:
Admirar um país é uma coisa...
Pagar pau pro mesmo, é outra, absurdamente diferente.
-Ok, Ok, senhora-que-não-paga-pau.
-Sim, não gosto de paus.
-Nem eu.

Barulho de isqueiro.

-Voltou a fumar?
-É meu hábito pré-histórico.
-Hoje tu o acendes, amanhã ele te apaga.
-Frase-efeituosa de botequim, caríssima?
-Sim, freqüento bastante.
-Eu também.
-Por que nunca a encontro?
-Lugar errado, na hora certa.
Ou hora errada, no lugar certo.
Ou nenhum dos dois.
-Espero um dia te encontrar num desses bares da vida.
-Em Manchester.
-Sim, aqueles encontros típicos de novela:
Nós duas, na Inglaterra, fazendo sabe-se-lá-o-que
Mas se encontrando num pub desses.
-Te dou um abraço, com ar de “corta!”.
-Um abraço falso?
-Um abraço de plástico.
-Your fake plastic feeling?
-Exatcly, babe.
-Eu juro que não sei como ainda falo com um ser tão filho-da-puta como você.
-Eu sei.
-É, eu também.
-...
O café tá pronto.

joan baez - diamonds and rust

life is very short, and there's no time...

Ontem enquanto escrevia o último texto que postei
Conversava com um amigo cibernético, Eduardo.
Conversávamos sobre vazio, solidão, pessoas, sensações e sentimentos.
E a conversa que tivemos interferiu imediatamente no meu cotidiano e comportamento... Talvez por ele ser mais velho, e saber exatamente como me sinto.
Lembro de um trecho, em que ele disse:
“Alguém disse que é a saudade é a ausência de nós mesmos...”.

E eu pensei muito nisso.
Ele me explicou que não há formas de ‘curar’ a solidão com outras pessoas.
Como disse Caio Fernando Abreu:
“É in, não off.”

Está tudo aí, tudo o que precisa saber, está aí.
O problema nem é que não saibamos disso
E sim, não sabemos lidar com o fato.
Ninguém quer se sentir só
Existem gentes que querem ficar só, repare.
Há um abismo de diferença entre as duas expressões
Sentir-se só, é sentir que estás fora de ti, ausente mesmo, saca?
Não tem a ver com não ter alguém, e sim não ter a si próprio.

Pausa.

Acordei triste hoje, sabe?
Sim, mais (bem mais) que nos outros dias.
Sem expectativa pra um dia bom, até deixei escapar um: “não queria acordar nunca mais.” pra minha mãe, e ela ficou bem puta.
Ela não entende que sou vazia.
Pra ela, só o simples fato de ‘eu ter tudo o que eu quero’ já basta pra ser feliz.
Mas como serei feliz se ontem descobri que não me tenho?
Que não estou em mim?
Que sou uma farsa?
Este é o meu terceiro texto, e as perguntas só aumentam.
Estou ficando com medo.

Cat Power – Names
(desta vez, é verdade)

subterranean homesick-alien

ok.
prometo que acordo e posto um texto otimista.

a gente corre pra se esconder...

oi-ninguém.

São 03:13 da matina e eu não tenho nada pra fazer.
Dormir? Não, deixa pra mais tarde.
Ler? Ler à noite não faz bem, já dizia a mamãe.
Música? Sempre, independente do horário.
Gentes pra conversar? Alguns papinhos virtuais, mas nada que me preencha essa falta do que fazer.

“A gente corre pra se esconder...”.
Marcelo camelo diz.
E isso me faz pensar, como nunca, nessa frasezinha aí mesmo.
Se esconder de quê?
De quem?
Nós mesmos?
Talvez.
Eu acho que todo mundo corre pra se esconder do desconhecido
Daquilo que tu sente que não pode ou não quer enfrentar.
Enfrentar a vida de peito nu é duro
Não é todo mundo que tem tal coragem...
Todo mundo tem aquele futurozinho pré-fabricado
Trabalho, grana, amor, casa, uma banda.
Daí o tal futuro chega, e você não é porra nenhuma.
Não passa de um monte de coisa-alguma
Procura desesperadamente por qualquer vício.
mesmo que o tal seja um programa de mensagens instantâneas ou site de relacionamentos.
daí procura gentes que te façam bem... encontra meia-dúzia
e o tal vazio ainda está lá...
aí usa remédios que te dê alegria;
e venenos anti-monotonia...

Há uma frase de Oscar Wilde que gosto muito:
“A vida é apenas um tempinho horrível, cheio de momentos deliciosos.”
Concordo!
Mas, e quando não se sabe usar esse tempinho horrível?
E nem saber lidar com os momentos deliciosos?
Alguns dizem que isso passa, é fase não saber viver.
Outros (que já passaram da tal fase) ainda não sabem.

Todo mundo precisa de alguém
Ninguém se basta.
Todo mundo precisa daquele ‘alguém’ pra aprender algo.
Todo mundo clama por ‘não solta da minha mão’, mesmo que seja lá no fundinho de si.
Todo mundo quer ser escravo; sim escravo.
Amar/gostar não passa de escravidão
Você precisa de alguém pra telefonar de madrugada
Precisa de alguém pra abraçar
E contar como foi o dia
Precisa prender-se à alguém, pra se sentir vivo.
É fato.

“Ninguém é corajoso o suficiente pra viver só.”

Eu não entendo, e nem quero entender.
Só quero viver, saca?
E viver ultrapassa qualquer entendimento, né.

Cat power – Colors and the kids
(na verdade, estou ouvindo “Sapato Novo” dos hermanos, mas é que é pra você-ninguém não pense que sou viciada.)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

primeiro

Primeira postagem; primeira anotação insensata;
Primeira passagem pelos becos estreitos virtuais do blogspot.com;

Cá estou eu, entregue ao “maravilhoso” mundo dos bloggers.

“Hoje eu acordei com sono, e sem vontade de acordar”
Acordei exatamente às 14:02.
Com uma voz lá longe: “você sabe que horas são?
São duas horas da tarde! Anda, levanta.”

A luz falsa-fosca do suposto sol chegava aos olhos
Dia mais-ou-menos frio, dia aparentemente comum, saca?
Sem nada a acrescentar, sem muito do que reclamar...
Como sempre.
Mais um daqueles dias que não fazem diferença se acontece ou não
Espera, espera
Não estou reclamando de nada, viu?
É por que, por que... Eu cansei de reclamar
Não adianta, é fato.
Pode parecer besta, clichê, quiçá emo.
Mas é fato:
Essa juventude está cheia de nada
Cheia de vazios
Vidinhas plástico-bolha, não há satisfação.
Daí o que sobra é reclamar, ou tentar fazer com que não haja motivos pra reclamar.
Mas, como é que se faz pra ter uma vida boa?
Eu acho que acho (?) que a felicidade é um grande conjunto de fatores.
Há gentes que discordam
Que há sim vidas boas sem felicidade.
A felicidade preenche o tal vazio?
E como é que há vida boa com o tal vazio-que-vai-ficando-mais-vazio?
Felicidade é relativo, é impossível tê-la o tempo inteiro.
Felicidade é um estado mental.

É triste viver cheio de nada, viu.
Sou gente torta que quer (saber) viver, gente.



Los Hermanos – Pois é