quinta-feira, 27 de novembro de 2008

o melhor dia da minha vida se aproxima [2]


I SEE IT COMING.

que tudo se saia bem
que eu consiga ingresso pros dois
que meu coração aguente
que eu não tenha amnésia
que eles toquem let down, wolf at the door e i might be wrong, se não for pedir muito
que a mallu magalhães não estrague estando no mesmo festival
e nem o little joy
que eu não sinta vontade de fazer xixi
que não tem baderna
e que a banda sinta o amor absurdo da parte de muitos aqui
rumo a 2009 YEI!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

(Tosca Tango Orchestra - Mi otra mitad de naranja)

Sentada no sofá de sua sala, sem grandes pretensões.
Não sabia como estava a noite e nem soube como foi o dia.
Acordou no sofá e ali ficou durante o dia inteiro, não sabia que horas eram e também pouco importava.
Banheiro. Umas duas talvez quatro vezes só pra conseguir espaço pra mais líquido.
Estática. Sentada ali, em um daqueles dias que você é um bastardo, naqueles dias em que ninguém liga pra você, ninguém lembra que você existe, até mesmo você.
Garrafas. O que se via eram só garrafas.
Copos quebrados do lado esquerdo do sofá, não se sabe bem por que, afinal raiva também não tinha.
Deve ter deixado cair, a essa altura estava comfortably numb, não fazia diferença.
E só uma música se repetia e repetia, repetia tanto que os violinos entravam em sua pele, os tilintares do piano, alguns outros instrumentos que não sabia descrever.
Muda. Nenhuma palavra dita durante o dia todo, concentrava-se no nada.
Esticava-se pra alcançar uma nova garrafa de vinho, de uísque, de rum, de vodka, de tequila, do que ainda tivesse.
Tinha uma entre as pernas, o mais perto possível para não ter que se movimentar muito, estava tonta.
Os olhos quase fechando, piscava lentamente, mas não tinha sono.
Obrigava-se a não ter sono.
A vida parecia rodar em slow motion ali, o cenário e sua protagonista.
Quem olha assim, acha que está pensando, mas ela poderia jurar que não estava.
Às vezes estampavam em seu rosto algumas dúvidas:
O que estava fazendo ali, como foi parar ali.
Roupas de dormir, meias, shorts, camiseta dois números maiores, também tinha o cabelo desarrumado e um olhar indescritível – Como?
Quem tentasse definir aquele olhar definiria como olhar de quem não está ali.
Mas ela estava.
Cigarros. Havia cigarros. Cigarros de mais, pontas, muitas.
Uns maços amassados, outros inteiros... Estava absolutamente abastecida do que precisava naquele momento que não tinha idéia de quando terminaria – se é que terminaria. Sim terminaria.
E a música continuava a repetir.
Ela continuava a piscar de forma lenta, de como quem tem sono e não pode dormir, uma vontade de só fechar os olhos... Mas ela não fechava, olhava e olhava, pro nada.
No auge daquilo que se ouvia repetidamente (um tango?) ela, acabando com toda paz daquilo ali, moveu-se bruscamente.
Levantou-se sem bambear e foi até a cozinha (agora sim tendo certa dificuldade em caminhar).
Pegou uma faca, uma tesoura, um garfo, um saca-rolha e uma sacola plástica.
Foi até a lavanderia e numa pequena caixa pegou um ponteiro, um martelo, uma pequena serra, pregos, tachas...
Em seu quarto pegou toda sua coleção de isqueiros, seus perfumes, mais uma tesoura, um estilete, um compasso, uma prancheta, um peso de papel, uma gilete, seus remédios pra dor de cabeça, pra cólicas, pra ressaca, pro estômago, pra dormir e aqueles especiais pra não dormir.
Tinha tudo isso nas mãos, apertados contra o peito pra não deixar nada cair.
Voltou pra sala, cambaleando, com a visão turva... Chutou todas as garrafas da mesa, líquidos derramavam sobre o tapete formando enormes poças coloridas, poças daquilo que até ali tinha sido só o que ela tinha.
Jogou todos os objetos sobre a mesa – ainda foi até a estante e pegou os copos mais bonitos, um canivete, um pedaço de barbante, arrancou os fios que via pela frente, pegou tudo.
Todas as coisas que cortavam, furavam, drogavam, queimavam, sufocavam e esmagavam...
Amarrou os cabelos, esfregou o rosto com as mãos, acendeu um cigarro e pegou o uísque.
E olhou.
Respirava sem pressa.
Apertava com força a garrafa na mão esquerda, as poças refletiam a a pequena e única coisa que fazia luz, o cigarro.
Olhou por minutos – agonizantes esses – praqueles objetos todos em cima de sua mesa.
Olhou pro seu corpo, pra suas mãos... Fechou os olhos, inclinou a cabeça pra trás, até encostar no sofá.
Ficou algum tempo assim, sentindo seus sentidos voltarem ao normal.
Sentindo-se viva, perigosamente viva, sentia seu coração bater apertado dentro do peito, ela queria alguma coisa, alguma coisa que não sabia decifrar, um desejo mórbido, uma vontade obscena por aquilo que estava ao seu alcance.
Levantou a cabeça, sentiu os violinos cortarem a sua pele, o piano cravando suas notas em seus membros, os graves do baixo descendo misturado ao uísque na sua garganta castigada pela bebida.
Sentia o gosto da morte.
Fechou os olhos novamente e última coisa que se ouviu foi a última nota do piano, a última coisa que se sentiu foi o desejo descendo pela garganta, o coração batia lento e a última coisa que se viu foi uma lágrima e seu corpo deitando triste sobre o sofá.