domingo, 11 de maio de 2008

acalanto

-Alô.
-Alô, sou eu.
-Eu sei. Tudo bem?
-Tudo, e você?
-Cansada e só.
-Mesmo?
-Uhum.
-Nós precisamos conversar...
-Precisamos?
-Sim.
-Ok! Precisamos, diga.
-...
-Alô?
-Ok, vou direto ao assunto.
-Pois vá.
-Sonhei com você, três vezes na mesma noite...
-Ligou só pra me dizer? Que bonitinho.
-É.
-Como foi?
-Foram ruins.
-Ruins como?
-Não, prefiro não falar.
-Por quê?
-Porque eu prefiro não falar.
-Sem grosserias, tá bom?
-Não há grosserias, você não me deixa falar.
-Mas você já não falou?
Ligou pra dizer que me sonhou, e ponto.
Ou vírgula?
-Eu preciso te falar umas verdades...
-Como assim “me falar umas verdades”? Que verdades?
-Verdades, ora.
-Tudo bem, fale, mas já imagino o que seja.
-É isso.
-Isso o quê?
-Essa é a verdade.
-Qual?
-Você sempre sabe o que eu vou dizer, não gosto disso.
-Eu não sempre sei o que você vai dizer...
-Sabe sim, por isso não digo.
-Aí eu tenho que imaginar...
-O problema é esse!
-Que problema?
-Você imagina as coisas erradas quando não sabe quais são as certas.
- Exatamente, quando não sei as certas. É só porque você não me diz as certas... Talvez EU tenha que te dizer umas verdades, já pensou nisso?
-Não desvia o foco pra você. Então não diz que sabe, e me deixa falar!
-Eu tô desviando?
-Tá!
-Ok, me perdoe, só queria poder te dizer umas verdades também...
-Não, eu quero falar as minhas.
-Tá bom, fale.
-É o seguinte, o problema é esse.
-Hein?
-O fato de você adivinhar as coisas que eu vou dizer, adivinhar o que eu sinto.
-Eu adivinho?
-Advinha.
-Não concordo.
-Por que não?
-Porque eu acho que eu sinto o mesmo que você, isso não é adivinhar.
-Faz sentido... Você sente mesmo?
-Acho que sim.
-Então o problema é maior do que imaginei.
-Que problema?
-Este!
-Olha, seja mais claro, está tarde, a mente não costuma funcionar como devia.
-Ok, se você me deixar falar...
-Mas eu estou deixando! Aliás, me diga:
Você diz que eu sempre sei o que você vai dizer... Isso é mentira!
Nem você sabe o que vai dizer! Como posso eu?
-Tem razão.
-Tá vendo só...
-Mas você não sabe o que eu vou dizer.
-E você, sabe?
-Na verdade, eu não...
-Eu não sei por que, mas entendo.
-Eu só queria te dizer as verdades.
-Que verdades?
-Você sabe.
-Mas você disse que eu não sei.
-Olha, você sempre me perturba com suas respostinhas.
-“Respostinhas”?
-É. Você sempre sabe o que dizer e isso me irrita.
-Por quê?
-Suas “perguntinhas” também me irritam.
-Então eu só te irrito?
-Nem sempre.
-Mas se eu não fizesse pergunta alguma ou não respondesse as suas, não seria mais irritante?
-Talvez.
-Então, se eu fosse muda seria melhor?
-Não!
-A verdade é que você odeia o fato de eu ser igual a você?
-Isso. Eu gosto de opostos.
-Eu sou mulher, você é homem, somos opostos.
-Você entendeu.
-O que você quer dizer com “eu gosto de opostos”?
-Quer dizer que...
-É o fim?
-Eu queria que você mudasse por...
-Você?
-Por mim? É, por mim.
-Você não pode me pedir isso.
-Mas eu estou pedindo.
-Mas você não pode!
-Por que não?
-Porque eu sou eu. É difícil mudar até por mim, quiçá por você!
-Eu já mudei por você, sabia?
-Eu nunca pedi isso, pedi?
-Não.
-Pois é, você mudou porque quis, porque achou que devia, não sei! Comigo não funciona assim, eu me acho suficientemente agradável.
-Escuta, quando você perguntou se seria melhor você ser muda... O que eu disse mesmo?

(silêncio)

-Ouve essa música.
-Qual?
-Essa.
-Que música é essa?
-Você não está ouvindo?
-Sim, mas é irreconhecível.
-The Killing Moon.
-Ah, ela.
-Agora posso falar as minhas verdades?
-Fala.
-Você não devia me pedir pra mudar, é egoísmo.
-Egoísmo é você se achar “suficientemente agradável”.
-Eu não sou suficientemente agradável, então?
-Eu não disse isso, mas chega a ser pretensão da sua parte...
-Achei que gostasse da minha pretensão.
-Tá vendo, continua adivinhando o que não deve.
-Está bem. Acho que lhe devo desculpas.
-Você acha?
-É. Eu acho.
-Você não consegue nem assumir que me deve desculpas...
-Você tá ficando bitolado, não é possível!
-Eu só não consigo entender porque você me trata como uma criança.
-É por que você quer que eu te trate assim.
-Que?
-É isso mesmo. Você se trata como uma criança, age como uma, o que quer que eu faça?
-Eu não sou assim.
-Você é. E ainda é uma criança mimada.
-Como assim?
-Acha que eu devo fazer tudo por você, como se fosse uma obrigação. Amor é troca, sabia?
-Eu não sou mimado.
-Isso não é algo potencialmente ruim, mas exageros são exageros, coisas além do ponto são potencialmente desnecessárias...
-Você não me impressiona com sua prolixidade.
-Não me preocupo em impressionar.
-Tudo bem. Digamos que eu seja... Isso te incomoda?
-Incomoda. Você é do tipo que quer tudo na hora.
-Eu não sou assim.
-É sim.
-Tá bom. Quer saber por que eu liguei?
-Não foi pelos sonhos e pelas verdades?
-Não, não.
-Então foi por quê?
-Porque eu sou mimado e quero uma coisa agora.
-Que coisa?
-Você.


Echo & The Bunnymen – The Killing Moon.

2 comentários:

Rayla disse...

por mais que seja o melhor a se fazer, ainda é a sangue frio (Y)

e lindo o texto, mesmo. quem são as personagens?

ps: TENTAREI NÃO EXCLUIR!

maria louca disse...

eu amo esse texto ok
e o final não tá vagabundo (H)

a rayle voltou? *-*